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ACIDE

ACIDE completa três décadas de luta, fundadores contam essa história.

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Por: Marcelo Bahiano

Trinta anos de luta em prol da inclusão e acessibilidade.

Arte –

Umas das pessoas idealizadoras da ACIDE, Marivalda Dias, que sofreu um acidente automobilístico em 1979, dez anos antes do surgimento da associação. Durante esse período Marivalda teve a experiência de ser uma pessoa cadeirante, e ter os seus direitos de cidadã violados.  “”Na época eu fazia parte da Fraternidade Cristã de Doentes e Deficientes (FCD), mas ela só tinha papel social”” disse Marivalda. Segundo ela, na época as pessoas não olhavam o deficiente como um ser capaz e as questões jurídicas ainda não eram algo complicado, “”eu sofri isso tudo na pele, então achei que já estava na hora de ter uma associação para nos representar na área social, jurídica e que tivemos abertura para cobrar em todos os espaços.

A Associação Conquistense de Integração do Deficiente (ACIDE) foi fundada em 23 de setembro de 1989, e quatro desses fundadores contam essa história de luta pela inclusão e fala qual foi a motivação que teve para criar a instituição. Relata todas as dificuldades da época.

A associação foi criada numa época marcante para o Brasil e o mundo. Em 1989, período pós-ditadura militar que assolava o Brasil, foi implantada a Constituição, com as garantias dos direitos fundamentais, um deles é o direito de ir e vir, expresso no Artigo 5º da constituinte.

            Em 1989, o muro de Berlim é derrubado unificando Alemanha Oriental e Ocidental. No mesmo ano nasceu a ACIDE, começa a luta da pessoa com deficiência pela inclusão e acessibilidade. Assim como o muro da capital Alemã, as barreiras da exclusão começam a se desfazer no sudoeste baiano.

Marivalda Dias: Foto – Arquivo pessoal

Umas das pessoas idealizadoras da ACIDE, Marivalda Dias, que sofreu um acidente automobilístico em 1979, dez anos antes do surgimento da associação. Durante esse período Marivalda teve a experiência de ser uma pessoa cadeirante, e ter os seus direitos de cidadã violados.  “”Na época eu fazia parte da Fraternidade Cristã de Doentes e Deficientes (FCD), mas ela só tinha papel social”” disse Marivalda. Segundo ela, na época as pessoas não olhavam o deficiente como um ser capaz e as questões jurídicas ainda não eram algo complicado, “”eu sofri isso tudo na pele, então achei que já estava na hora de ter uma associação para nos representar na área social, jurídica e que tivemos abertura para cobrar em todos os espaços.

Luiz Fernando: Foto – Marcelo Bahiano

 Entretanto, para ser fundada a instituição precisava de um estatuto, e aí surge outro personagem importante para a história da associação, Luiz Fernando Pereira Couto, conhecido como Fernando, ficou cego aos 22 anos, por complicações causadas por glaucoma, além de um dos fundadores da ACIDE, ele também é professor do sistema Braille.

            Fernando e Marivalda se conheceram na FCD, ambiente onde se conheceram três dos quatros fundadores da instituição.

Numa reunião em Itabuna que Fernando estava presente, surgiu uma oportunidade dele trazer o estatuto de uma associação daquela cidade para servir de modelo. “” Eu fiz uma viagem até Itabuna, para participar de uma reunião representando a FCD, chegando lá procurei Dacildo, o presidente da associação daquele município, informei para ele que tinha um grupo aqui em Vitória da Conquista com a intenção de fundar uma associação. “” contou Fernando e ainda disse que trouxe o estatuto para Marivalda.

 Entretanto, para ser fundada a instituição precisava de um estatuto, e aí surge outro personagem importante para a história da associação, Luiz Fernando Pereira Couto, conhecido como Fernando, ficou cego aos 22 anos, por complicações causadas por glaucoma, além de um dos fundadores da ACIDE, ele também é professor do sistema Braille.

            Fernando e Marivalda se conheceram na FCD, ambiente onde se conheceram três dos quatros fundadores da instituição.

Numa reunião em Itabuna que Fernando estava presente, surgiu uma oportunidade dele trazer o estatuto de uma associação daquela cidade para servir de modelo. “” Eu fiz uma viagem até Itabuna, para participar de uma reunião representando a FCD, chegando lá procurei Dacildo, o presidente da associação daquele município, informei para ele que tinha um grupo aqui em Vitória da Conquista com a intenção de fundar uma associação. “” contou Fernando e ainda disse que trouxe o estatuto para Marivalda.

A partir daí as reuniões começaram a acontecer no teatro Carlos Jeovah, mas segundo Marivalda a associação de Itabuna queria que a instituição daqui fosse uma sucursal da que já existia naquele município. Só que a proposta não foi aceita pelos fundadores.

André Cairo: Foto – Marcelo Bahiano

            A única pessoa entre os quatros fundadores citados nesta reportagem que não tinha deficiência era André Cairo, que sempre carregou consigo  a vontade de ajudar o próximo, isso ficou mais aflorado depois que ele sofreu um acidente no qual o caminhão bateu e o atropelou quando era ainda criança, deixando o então menino em coma: “quando eu era criança recebia mesada dos meus pais, então eu distribuía moedas na antiga Praça das Borboletas, entre mendingos e pessoas com deficiência”” afirmou André ressaltando sua solidariedade desde criança. Ele ainda teve uma participação importante na criação do estatuto da ACIDE, “”sugeri que deveriam ocupar os cargos da diretoria executiva, como presidente, vice-presidente, secretário e tesoureiro apenas as pessoas que tivesse algum tipo de deficiência.”” explica André, e assim o estatuto da instituição está até hoje, nada mais legitimo do que quem esteja à frente sejam as pessoas com deficiência que vivem no cotidiano a problemática de ser incluso da sociedade e toda falta de acessibilidade.

            André Cairo fala que depois de um tempo da instituição fundada resolveu sair, ele entendia que associação já podia andar com as próprias pernas.

Porém as discussões para a fundação continuaram e o próximo passo seria  definir o nome da associação que estava por ser criada.  Segundo Marivalda foi sugerido vários nomes para identidade. Entre eles o que ficou em segundo lugar foi Associação Conquistense do Deficiente (ACEDE). Entretanto foi escolhido Associação Conquistense de Integração do Deficiente (ACIDE). Segundo Marivalda sugestão proposta por ela.

Irapuã Sampaio: Foto – Arquivo pessoal

Depois de fundada a associação enfrentou muitas dificuldades. O primeiro presidente da ACIDE foi Irapoan Sampaio, que conheceu Marivalda por meio de uma prima que trabalhava na prefeitura de Vitória da Conquista, onde ele trabalhava também.  Irapoan ficou cego ainda criança, quando recebeu um coice de um boi, e começou a desenvolver um tumor na cabeça que afetou o nervo óptico, foi levado para São Paulo onde foi feita uma cirurgia para retirar o tumor maligno. Irapoan sempre contou com o apoio de sua esposa Normélia Rocha, “Aqui na associação, criamos muitas amizades, sempre que a ACIDE precisou a gente ajudou e qualquer coisa que venha a precisar estamos aí!”” afirmou Normélia, mulher de poucas palavras mas sempre do lado e ajudando seu marido.

            Em uma comissão tirada para dar encaminhamento e  providenciar lugar pra realizar a primeira eleição, foram eleitos Irapoan Sampaio presidente e Marivalda dias vice-presidente.   “”No início tinhamos três coisas, um livro de ata, um livro caixa e uma ideia fixa na cabeça que não poderíamos parar”” afirma Irapoan. Que ainda conta toda dificuldade que enfrentou como primeiro presidente da ACIDE, e ainda explica que no início o primeiro desafio era alugar uma casa e colocar móveis adequados, isso sem nenhum recurso próprio. ““Tivemos que levar merenda e produtos de higienização, cada um fazia uma vaquinha e dava uma contribuição para arcar com as despesas básicas.”” disse Irapoan se referindo às dificuldades da época.

            Em 03 de dezembro de 1989, o então prefeito de Vitória da conquista Murilo Mármore PMDB, leva para a Câmara de vereadores a proposta de Lei de tornar a ACIDE, instituição de Utilidade Pública Municipal. No ano seguinte, 1990, o então deputado estadual Coriolano Sales PMDB, levou a mesma proposta para Assembleia Legislativa. Com os dois títulos de utilidade pública, no mesmo ano a instituição pôde celebrar o seu primeiro convênio com o Município possibilitando aluguel de uma casa que viria a funcionar como a primeira sede da ACIDE, situada na Avenida Bartolomeu de Gusmão, no bairro Jurema. Segundo Irapoan, a Associação também contava com o apoio do Prefeito José Pedral Sampaio PMDB, que foi o sucessor de Murilo Mármore.

Seguindo pela história, a entidade recebeu uma doação de um terreno da prefeitura, feita pelo então Prefeito Guilherme Menezes PT, foi com esse terreno que a entidade começou a construir sua sede própria, por meio de recursos arrecadados com a realização de bingos, doações de pessoas físicas e jurídicas e também com recursos públicos.

Os engenheiros que colaboraram com a construção da sede foram Leandro Aragão, Ana Maria Cordeiro e Alexandre Pedral todos eles assinaram as plantas que deram origem a um espaço construído de 860 m², onde a instituição recebe todas as pessoas com deficiências de braços abertos e que necessitam ser reabilitadas para viverem dignamente na sociedade.

A ACIDE atende uma população estimada em 2 milhões de habitantes que vem da região sudoeste da Bahia e do norte de Minas Gerais. Oferecendo os serviços de Alfabetização em Braille, Orientação e Mobilidade, Estimulação Visual, Letra Cursiva, Informática Adaptada, Artesanato, inserção da pessoa com deficiência no mercado de trabalho e conscientiza seus associados de deveres e direitos formando-os como cidadãos.

 Segundo dados do IBGE (2010), 23,9% da população do Brasil tem algum tipo de deficiência. De acordo com a ONU cerca de 10% da população mundial vivem com alguma deficiência, em torno de 650 milhões de pessoas.

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